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O jornal britânico The Guardian e o posicionamento de sua cobertura sobre meio ambiente e Amazônia

15 setembro 2020

Beatriz Bidarra

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Photograph: Adobe Firefly

O meio ambiente é necessariamente um tema transversal. Ele dialoga e interfere em política, tal qual na economia. A lógica de que esse assunto merece estar em editoria específica nos veículos de mídia precisa ser invertida. A questão ambiental toca várias outras áreas, não só do conhecimento, como da vida social, e esse é apenas um dos motivos pelo qual ela deve estar presente nas mais diversas coberturas, da primeira à última página dos meios de comunicação. 

Na mesa "O que mudou na cobertura do Guardian sobre o meio ambiente e a Amazônia?" do 15. Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo¹, Jonathan Watts, editor internacional de meio ambiente do The Guardian, deu o tom: o jornal britânico mudou o modelo de negócio e retirou o tema da periferia, trazendo-o para o centro. A partir daí, meio ambiente deixou de ser editoria específica e o financiamento do veículo passou a ser muito mais coletivo do que oriundo das receitas publicitárias de grandes empresas. 

“Não recebemos mais anunciantes vindos da área de petróleo. Aumentamos a equipe, buscamos mais recursos. Temos uma equipe muito grande. Tentamos mudar as prioridades de quem está na periferia para o centro. Uma das maneiras de fazer isso é tirar as matérias de meio ambiente do canto. Meio ambiente precisa estar em todo o jornal, ele afeta política, afeta economia. Então, as invés de estar na periferia, colocamos ele no centro, para termos novas formas de receita. Temos menos anunciantes hoje vindo dos combustíveis fósseis e temos mais colaborações de leitores. Uma pesquisa nos mostrou que a maioria de doações vêm de matéria de meio ambiente”, afirmou Jonathan Watts no congresso da Abraji. Além disso, ele citou iniciativas como Rainforest Journalism Fund, que tem apoio do Centro Pulitzer de Jornalismo, para apoiar que a cobertura Amazônica seja feita por jornalistas preferencialmente da América Latina. 

As alterações no curso do jornalismo não pararam por aí. A linguagem também foi um fator fundamental e objeto de mudanças no The Guardian. “Tentamos encorajar as mudanças das práticas na nossa própria organização. Nós mudamos a linguagem. Falamos de crise climática, aquecimento global. Ao invés de falarmos sobre biodiversidade, falamos de natureza e sistema de apoio à natureza. O jornal The Guardian colocou como meta até 2030 ter zero emissões, como empresa”, disse Watts durante a Conferência. 

Depreende-se que a cobertura ambiental feita pelo jornalismo pode e deve ser ampliada, mas sobretudo repensada. O olhar do jornalismo para o meio ambiente deve levar em conta que a cobertura não é apenas sobre um fato isolado ou somente sobre a questão ambiental da forma que estamos acostumados a pensar. O meio ambiente, além de ser natureza propriamente dita, é geopolítica, é economia, tal como a crise não é apenas ambiental, mas civilizatória. É preciso repensar o olhar, refletir sobre os modelos de negócio em jornalismo e reorganizar os rumos. A emergência climática está em curso e cabe ao jornalismo reposicionar sua rota. 

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¹O congresso aconteceu em setembro de 2020. Mais informações aquí.

 

Beatriz Bidarra é jornalista, mestre em Integração Contemporânea da América Latina, assessora de imprensa da Câmara dos Vereadores de Foz do Iguaçu e membro da equipe de Comunicação do OBEAMV.

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